quarta-feira, 10 de setembro de 2014

A Escola Real

Hoje fiquei imaginando uma Escola Real.

Uma assim, diferente, que fizesse o que esperamos realmente dela, dentro dos novos conceitos de personalidade, valores e expectativas para nossas vidas.
Qual sua função? Formar? Informar? Educar?
Nunca gostei do termo "formar". Parece "colocar em uma forma". Fazer com que todos que entram diferentes, saiam de alguma forma, iguais...
Educar, todos dizem, acontece antes, em casa, em família, de acordo com os preceitos básicos de cada uma, e é o básico para que se viva em sociedade - educação recebida desde o nascimento.
Informar? Tarefa menor, não acha? Conseguimos isso até sozinhos, através de uma boa leitura, hoje em dia.
Acho que a verdadeira função da Escola Real é revelar. Sim, revelar.
É na escola que o mundo se revela. Onde nossos maiores talentos se revelam; e nossos maiores desafios. É dentro desta querida instituição que descobrimos aos poucos quem somos e o que queremos nos tornar. E para isso, muitas vivências, técnicas, experiências, trocas e desafios precisam acontecer.
Nesta escola, entraríamos como o "fulaninho de tal", filho daquele pai e daquela mãe. Igual todo mundo. E a sorte estaria lançada.
Ficaríamos lado a lado com outros fulaninhos, e saberíamos que nosso jeito de ser não é o único no mundo - como parecia nas nossas casas -  mas que muitos outros diferentes de nós existem. E isso seria muito legal, porque ali vão nos mostrar que isso é legal.
Nada na Escola Real exige que todos se pareçam. Ela exige que se respeitem. E que cada um respeite o Bem Comum. Bem Comum?  Ali, tarefas como limpeza, higiene, arrumação, silêncio, prioridade e ordem não são ensinadas da forma hierárquica do "porque sim". Tudo que é Comum, deve ser cuidado porque é de todos, e não de ninguém: o corredor, as carteiras, a lousa, os livros, o pátio, a biblioteca, a hora de falar... Tudo é seu, meu, nosso, e por isso passível de zelo, respeito e ordem.
 E calmamente, com espaço para ser quem somos, vamos descobrindo as várias facetas desta nossa essência. Cada exercício, cada prova, cada teste, em áreas das mais variadas - desde as tradicionais Aritmética e Literatura, até liderança, carisma, afetividade, disponibilidade, inspiração, ritmo, canto e arte - se valeriam para revelar um pouquinho mais de quem somos. Pessoas qualificadas em gente nos olhariam o tempo todo. Responderiam nossas dúvidas. Auxiliariam nas nossas escolhas.Corrigiriam nossos equívocos.
Nós sempre estaríamos em círculos concêntricos ao redor da fonte de informação, nada de um dar as costas ao outro e ficar sozinho.
Notas? Dizendo se sabemos ou não? Coisa pequena... Teríamos avaliações dizendo quem somos, o que estamos fazendo, com o que gastamos nosso tempo e nossa capacidade. Estamos crescendo? Para que lado? De que forma? Isso as avaliações diriam...


Com o tempo teríamos um mapa cada vez mais detalhado do nosso EU. Melhor da classe? Faça-me o favor... Melhor em que? Desenhar? Cantar? Fazer amigos? Contas? Redação? Versos? Entender lógica, mapas ou geometria? Ajudar o outro? Expressar sentimentos? São tantas variáveis que todo mundo poderia ser o melhor da classe em alguma coisa, então melhor não competir...

Mas o mais especial nesta Escola, seria revelar a nós mesmos. E poder amar o que descobrimos.
Na Escola Real a verdadeira intenção seria revelar o ser humano em cada aluno. Dar a ele dados e experiências diferentes para que se encontre no Todo com real valor e igualdade com todos ao redor. Dar a ele situações reais e informação para que conheça e respeite o ser humano do outro, diferente do seu - ainda bem!
Quanto tempo ficar lá? O suficiente. Posso voltar se precisar? Lógico! Começar de novo? Talvez... desde que seja o que te motiva e faz bem.
Sei que pode parecer loucura, que ninguém iria estudar nada. Ilusão. Eu trabalho com crianças que odeiam a escola, são até diagnosticadas com déficit de atenção, e que ficam vidradas quando abro um livro sobre cristais e pedras na minha sala. Decoram nomes e características que eu mesma não lembro. E se lembram de tudo em cada sessão seguinte, compenetradíssimas.
Aos poucos iriam aprender também as outras coisas, mas no seu tempo. Seria como estar no primeiro ano em História mas no oitavo em Português. Ou saber a matéria do curso completo de Matemática e ainda cursar o segundo ano de Biologia.
Tudo bem. A coisa boa não pararia porque a complicada se estica.
Quando se atingisse o conhecimento suficiente para se seguir adiante em algum caminho, não importa se todas as áreas andaram juntas. Ninguém sabe tudo de tudo para ser feliz. Sabe-se o que se quer saber e o necessário para se fazer o que se escolhe. Analisamos o mapa revelado, e não teríamos problema em ver o que faz o indivíduo feliz. Ele pode escolher e seguir seu caminho. Ou ficar, continuar e ter certeza de outra coisa. Desde que caminhe, tudo bem.
Ah, mas e a cultura básica, onde fica? E eu pergunto, onde ela está agora? Tudo que é ensinado é absorvido e utilizado em igualdade por todos? Ou apenas são momentos e momentos massacrantes onde professores cansados tentam colocar ordem e disciplina em pessoas que não conseguem se interessar pelo que falam? Pura frustração. Para ambos os lados.
Teríamos sim, pessoas de várias faixas etárias nas mesmas classes, trocando ideias e experiências. Sobre o que gostam. Simples assim.
Bom. Fiquei imaginando a Escola Real que eu gostaria de ter conhecido. Uma escola que não me medisse pelas dezenas de 10 e 9,5 que tirei a vida toda, tentando ser alguém aceito e importante. Um lugar que me desse espaço para ser aceita como eu já era, e então eu poderia passar para a próxima fase - a que importa - que me revelasse, mostrasse do que gosto, sobre o que quero saber mais. Isso me economizaria anos e anos estudando coisas que nem me lembro, mas sabia tudo e tirei 10. E anos e anos de trabalho de autoconhecimento décadas depois. E faculdades e carreiras que não me trouxeram o que eu buscava realmente. E muitos outros equívocos mais sérios ao longo da minha caminhada.
Mas para isso, teríamos que jogar fora toda a tralha que não funciona. Sem dó nem remorso. Aceitar que o que temos já fez o que pôde pela humanidade, e agora é obsoleto e inadequado. Fazer o que o ser humano existe para fazer e é sua melhor habilidade: juntar mentes e corações com vontade e liberdade, e criar o novo. Sempre. E nunca mais estagnar. Acabar de vez com esta história de remexer o resto da comida velha do almoço, colocar novo tempero e servir como novidade no jantar.
Hoje, a Instituição Educacional está falindo... quase ninguém almeja ser professor. Na época dos meus avós era uma profissão altamente respeitada e desejada. Mas naquela época era o que atendia, e funcionava. Hoje, quem quer ser um daqueles caras que diz e cobra o que ninguém quase quer saber? Ou ser uma daquelas professoras esforçadas sem reconhecimento merecido, lutando através do Sistema para fazer a diferença?
Tenho certeza de que muitos na Escola Real se revelariam professores se os vissem como pessoas que sabem passar sua paixão para o outro, sedento da mesma sede. Instigante, emocionante.
Desafio, todos queremos. Nós não queremos é tortura ou demagogia. Nossa escola hoje não é reveladora. Mas acolhe seres humanos sedentos por se revelar. Xeque-mate.
Mas a Roda não pára. É só questão de tempo para tudo ruir e renascer. Simples assim.





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