sábado, 28 de maio de 2016

Sexo, Violência e Sagrado

Há uma cura secreta acontecendo entre nós e ela urge. 
Uma cura invisível que abraçamos, necessária e poderosa, mas nem por isso fácil.
Tanto e tanto foi dito, discutido, gritado e chorado... e estamos aqui, metade da população, ainda tão frágeis.
Por que as mulheres são frágeis, sendo realmente tão fortes? A cada curso que dou, a cada Roda que realizo, a cada mulher que atendo, meu coração me diz que perdemos nosso código de lealdade no meio da dor.
Os homens são leais. Seu código é intacto, seja entre padres, advogados, esportistas, traficantes, políticos ou marginais: o código da honra.

O que qualquer, qualquer homem, diria se trinta homens encurralassem um único homem e o espancassem? 
Diria "Covardia!", sem hesitar.
Não importa se este homem fosse santo ou assassino, se estivesse numa praça ou na prisão. Seria covardia, voto unânime entre todos os outros homens. Todos envolvidos teriam sua reputação masculina manchada para sempre, e o homem espancado, se vivo, seria um herói, se morto, um mártir.
Porque nossa sociedade foi erguida e estruturada neste tal código de honra masculino. Respiramos isso desde que nascemos, todos nós vivemos sob ele, nossas leis foram feitas e baseadas neste código masculino invisível e real, e sob as verdades que ele contempla.
O problema é que este código é falho, mesmo que correto muitas vezes, pois é apenas a metade da visão, exclui a sabedoria da outra metade da verdade.
A violência sexual não é considerada igual à qualquer outra violência "física" neste código de conduta, pois o sexo não é considerado um ato voluntário e por opção pela cultura tradicional masculina. A tradição nos vende o sexo como uma "necessidade" para os homens. 
Os homens aprenderam e aceitam por milênios que "precisam" de sexo para viver, e ainda mais... muitos acham que são controlados por esta "necessidade", justificando humor, lealdade e parceria com ela.
Podem imaginar a posição delicada que esta ideia nos coloca? O que nós mulheres somos então? Uma carreira de cocaína, um comprimido de ecstasy, uma pedra de crack ou um copo de bebida? Algo feito para destruir, que se não for escondido não se pode resistir, e leva à própria ruína?
Sei que parece duro e triste, mas é exatamente assim que esta mentalidade nos faz parecer. 

Toda a missão do Feminino Sagrado é sobre isso. É fazer com que a mulher desperte para seu lugar na sociedade, sobre seu poder que é tido como "tentação". Não somos isso. 
Ser "tentadora" não é mérito algum.
Drogas apenas são tentação para pessoas doentes, me desculpe. Homens sadios não são "tentados". Homens sadios desejam, assim como mulheres sadias, e escolhem sabiamente o que fazer com isso, sem perder o controle e a humanidade no processo.
Homens sadios não usam drogas como armas. Homens sadios não usam sexo para humilhar.
Gostamos de sexo tanto quanto os homens, nos atraímos por seus corpos e nossos corpos também despertam quando tocados pelo desejo. Mas queremos ser desejadas de volta. Queremos a troca.
Quando o sexo é voluntário e consciente, a mulher tem o poder mais grandioso do mundo no seu ventre de luz e pode curar, emocionar, fortalecer, fazer um homem - ou outra mulher - literalmente ir ao céu através dele.

Não importa se a mulher é sacerdotisa, esposa, prostituta, ladra ou meliante, o sexo sempre será sagrado para ela mesmo que ela não queira, está dentro dela, ela precisa da troca, pois é dentro dela que tudo acontece e permanece. Sempre.
Sexo para a mulher é sagrado, mesmo que ela não saiba disso... seu corpo e sua alma sabem. Somos a parte que recebe, a que literalmente se abre, acolhe. Somos o cálice da magia do amor.
Mas quando o sexo se torna uma guerra a troca deixa de existir, e quem tem a arma de fogo não somos nós. 
Não conseguimos "tomar" nada de ninguém no sexo. 
Nem a mais iludida "devoradora de homens" consegue, isso é uma ilusão. Damos uma parte nossa em cada ato sexual, e recebemos algo dentro de nós, mesmo que não queiramos isso. Por isso nos tornamos "frágeis" sem o ser realmente.
Isso nos leva a realidade de que precisamos de um código urgente que nos proteja. Precisamos de um código entre as mulheres, e para isso precisamos que despertem da ilusão de que serem "tentadoras" é elogio. Tentar é muito pouco para o que somos capazes. Não precisamos "virar a cabeça" de homem algum, nem de vários, mas sim ativar o seu Sagrado, seu coração, sua verdade através da nossa verdade.
Seja por uma noite de festa, uma semana de amor, ou pelo resto da vida, apenas precisamos que seja verdadeiro, que seja por nós tanto quanto pelo outro, e que valha a pena. Precisamos despertar.
Perdemos nossa honra na dor, nos separamos umas das outras, nos esquecemos de quem somos e do nosso valor. Nos tornamos vulneráveis na ilusão de que somos uma "tentação", algo feito para ser consumido, como uma droga de luxo que ganha mais valor quanto mais tentadora for.
As mulheres deveriam poder se exibir para si mesmas, espalhar sua beleza pelo mundo com liberdade, se respeitando como retentoras do poder do amor, assim como os homens belos se exibem sem sentir medo algum por onde passam. Elas precisam despertar para o fato de que não precisam tentar nem se oferecer, já são um convite do amor por nascença, e merecem ter paz dentro desta verdade.
Elas não precisam se esconder, nem competir, já que são todas sagradas. 
Elas precisam de um código: um código de irmandade.
E sabe como podemos fazer valer nosso código de irmandade? 
Não deixando um homem desfazer de outra mulher na nossa frente. Não querendo encontrar nossa Luz apagando a da outra, acolhendo cada mulher como nossa irmã, seja quem for, e sentindo toda a dor como se fosse a nossa. Isso cura.
Se hoje o sexo perdeu seu valor foi por causa de homens que não podem lidar com ele com sabedoria e venderam mentiras para nos usar, e de mulheres que acreditaram neles. Então que eles não tenham mulher alguma, até aprenderem a merecê-las. 
Isso é um código de irmandade.
Se cada mulher se negar a se compartilhar com um homem que a vê como uma "tentação" e não como um ser que exala amor e desejo, se cada mulher exigir que seja tocada por escolha consciente, e não por alguém "perder a cabeça" ao vê-la, podemos realizar esta cura em todo o corpo mental da sociedade.
Se apenas os homens verdadeiros tiverem o prazer da nossa companhia e do nosso amor, faremos a mudança. 
Transformaremos esta nossa tal "fragilidade" em força.
Ou podemos gritar, chorar, protestar, e esperar que a Humanidade desperte e nos dê uma sociedade justa para viver, enquanto continuamos a julgar e trair nossas irmãs pelas costas, ou usar nosso corpo sem respeito algum... acho que apenas estaremos plantando hipocrisia.
Da mesma forma que só se pode cobrar honestidade sendo transparente primeiro, precisamos ser verdadeiras conosco e com as outras para cobrar esta posição do mundo ao redor.
Há uma cura silenciosa acontecendo. Ela fala de voltarmos a nos ver como somos. Ela fala de sermos unidas em torno da nossa verdade. 
Isto é o Sagrado Feminino.
Há uma cura em torno dos valores, músicas, literatura, textos sagrados, conversas familiares e sociais, em torno de leis, idéias e rumos de vida.
Há uma transformação magnífica e dourada acontecendo no mundo, mesmo que através de tantas lágrimas e dor. 
Há uma magia acontecendo entre o que era e o que será. 
Há um mundo antigo poderoso e duro se transformando para se unir a um mundo novo mais doce e generoso. 
Há uma cura em torno do Amor.
E está apenas começando.
Façamos a nossa parte.

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