terça-feira, 1 de maio de 2012

Reencontro


Uma nova fase da história...



Há sempre um mistério dentro de cada ser humano. Não um mistério que explique a origem da vida, a ordem universal ou o destino da humanidade. Há um mistério único e especial, um pedaço de luz que guarda sua origem individual, sua história. Um mistério não muito comentado, mas que no fundo, é a resposta para tudo o que se procura entender ao longo da vida, mas se busca fora de si. Ali dentro está sua caminhada, suas escolhas e consequências, e principalmente, suas dores.
Principalmente, sim, porque a grande sabedoria está na dor. Mesmo que nada cultuada, amplamente evitada e temida, ela existe dentro de todos nós, sem exceção. Dentro de cada lágrima há explicações para os medos, as condutas equivocadas, as tendências repetitivas de se procurar errado e nunca encontrar o que se busca. Há um mundo individual lacrado e secreto dentro de cada ser humano, um mundo que sofre negação e ignorância por puro medo da sua força.
A dor vivida é uma das maiores forças do mundo. É fácil sobreviver a uma tarde de sol, a uma bela festa de aniversário, uma promoção ou uma conquista almejada; qualquer um pode sobreviver a isto sem problemas. Mas e o que dizer sobre uma frustração, uma traição, uma perda, um corte na alma (ou na carne)?
Dentro de cada ser humano se guarda seus limites pessoais para cada situação, suas tentativas de acerto e superação. Lá dentro está escondido o quão longe já se foi e o que se sofreu para fazê-lo. E acessar tudo isso dói. E muito.
Por muito tempo escuto em vivências e terapias que olhar para o espelho não é fácil. Dizem isso sempre, como se fôssemos monstros horríveis precisando reconhecer a própria monstruosidade. Como se nossa verdade chocasse. Como se nunca mais poderíamos nos enxergar com amor e beleza depois deste momento temido.
Para mim tudo era um pouco mais acessível, porém. Sempre convivi com lembranças passadas que brotam todos os dias das minhas entranhas de luz. Ou de escuridão. Elas se mostravam sempre, confusas às vezes, e nunca houve como negá-las. Depois de muito tempo percebi que só havia uma coisa a fazer.
Bom, eu encarei. Por meses, e meses, por anos a fio. Sem parar para respirar, sem refugo ou pausas. Apenas um enorme e controverso caminho que, apenas depois de muitos passos já vencidos, descobri não ter volta. Não há como esquecer do que já se sabe. Não dá para fingir que não se viu.
Há medo e dúvida. Há revolta e desespero. Há negação e mágoa. Há silêncio e às vezes um vácuo perturbador. Há momentos de doçura, entretando. Momentos de auto-compaixão, de auto-entendimento e de alívio instantâneo. Há compreensão das nossas maiores dificuldades, e aceitação de erros que são apontados por todos sem que se possa lidar com eles.
Mergulhar no próprio mistério é encarar a coragem de ser humano. A coragem de se aventurar na matéria, de se esquecer de quem é, da luz que carrega, e simplesmente existir por fé na vida. Começar tudo de novo, e seguir.
As lágrimas rolam novamente nas faces, e dores no peito são libertadas com muito suplício. Muita coisa a perdoar, a transformar. Muita coisa a esquecer.
Ciclo curioso: lembrar para esquecer. Mas na verdade não se esquece. Apenas se liberta, para não mais doer. Até sentir que algo quente e calmo surge na alma. E lá no fundo, depois de muito, muito enfrentado, há, finalmente, o Amor.
Quando se consegue sentir Amor, mesmo sabendo de todo o tormento transcorrido, se alcança finalmente, a paz. E paz é algo muito, muito bom. Tão bom que não se pode vender no mercado, ou conquistar com meia dúzia de vidas conturbadas. Não a conhecemos fingindo ser alguém que não somos, dando aos outros o poder de resolver nossos problemas, ou negando dores que sentimos. Paz de verdade é objeto de trabalho duro. E enfrentador. Enfrentando a dor.
Este mergulho é elucidador, e muitas vezes não apenas para quem o enfrenta. Encarando o meu próprio, percebi que dentro de cada um de nós existe uma pequena parcela da história de todos nós. Parcelas complementares e iluminadoras, que unidas podem desvendar o que quisermos saber. Por isso é tão importante que todos o enfrentem, em algum momento de sua existência. Porque todos nós precisamos saber. E despertar como humanidade.


De nada adianta ser o único desperto. A chave não está aí. A resposta está na união dos mistérios, na iluminação coletiva das verdades. Aí mora a grande virada.
Sabendo disso, trabalhadores se levantaram. Por anos, muitos de nós se dedicaram de corpo e alma a este objetivo. Trabalhamos para que mais e mais pessoas encarassem este desafio através das nossas energias e canais. Algumas vezes foi muito gratificante. Outras, infinitamente frustrante. Mas não importa mais.
Hoje, a grande meta é realmente individual. Lógico que facilitadores podem continuar a conduzir outras almas através de suas caminhadas pessoais, com a mesma dedicação e amor que fazem há décadas, mas hoje seu poder se torna cada vez mais limitado, porque a escolha é pessoal e intransferível. Somos, cada vez mais, apenas um dedicado suporte de trabalho. E isso já é muito para se realizar!
Depois de encarar o abismo e de me esfacelar, depois de ver meus cacos e me juntar, desisti da tarefa de levar outros pela mão. Não porque não seja uma tarefa bela e importante. É. E muito. Mas porque na elucidação do meu mistério encontrei outras funções para minha verdade.
Então, minha forma de agir será em compartilhar o que vivi. Há um mundo neste mergulho, pedaços de mim que cabem dentro de muita gente, e será sua essência que procurarei colocar neste espaço.
Há um mistério dentro de cada ser humano. Seja bem-vindo ao meu. Se encaixe onde sentir vontade. Adote o que te fizer sentir Amor. E crie suas próprias asas para dentro de si mesmo.

Um comentário:

  1. E assim vem a grande beleza que transforma o outrora dito egoísmo em gerenosidade: ao atentar-se para o seu, o construirá melhor. Construindo-o melhor, melhor exemplo se torna. Tornando-se bom exemplo, a missão coletiva se faz: por si, por simplesmente existir, leve, fluida e natural. Sem a pior das dores, sem a cobrança da explicação porque ela simplesmente é e por ser, já está completa.

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