terça-feira, 8 de novembro de 2011

Amanhã será hora de voar

Uma poesia, uma história
"Cansei de viver sonhando
com coisas que deveriam ser reais
Cansei de pedir
o que já deveria ser meu
Cansei de explicar
o que já deveria ser sabido
Cansei de repetir
coisas que já nem acredito
Cansei, cansei, cansei
Cansei do beijo, da cor,
do suor, do cheiro,
cansei da dor
Cansei do olhar vago
como se eu fosse transparente
Cansei de olhar no espelho
e não saber quem vejo
Cansei de dizer coisas
que ninguém escuta
Cansei, minha Deusa, cansei
Graças a Deus,
Eu cansei."

Dentro da Tríade que forma a Deusa - virgem e filha , amante e mãe, e sábia anciã - a mulher ainda tateia o chão, querendo levantar.
Amante e mãe, mãe e amante. E ainda eu mesma.
Ainda sinto o chão duro sob meu corpo, o ar quente, e um cansaço inerte de quem esteve parada na mesma posição por tanto tempo que não sabe mais afirmar quanto.
Cansada de guerra. Cansada da luta no mundo sem sonhos.
Acordar a mulher, a consorte, a amante. Tarefa infinitamente complicada para alguém que já nasceu anciã. Ou simplesmente, guerreira.
A mera imagem do que pode ser, assusta, mas apaixona. O poder é imenso, o olhar profundo e certeiro, o corpo quente e vivo. As mãos – especialmente as mãos – são delicadas e sábias, flexíveis, veladas, focadas e fortes. A pele macia sente demais. Não raro quando se ouve um pedido para que se acalme a sensibilidade aflorada, por não controlar os sentidos, por perder, chorar, por não saber se resguardar.
Os cabelos são como coroas e mantos, emoldurando, dignificando a deusa que os carrega. Assisto o amor que têm por eles, e, com um aperto ao peito, sinto uma memória nublada, e a certeza de saber ser um castigo especialmente cruel ser obrigada a ficar sem eles.
Ser mulher. Viver mulher. Vibrar mulher. Conviver mulher. Compartilhar mulher. Dividir mulher. Doar mulher. Receber mulher.
Este resgate é infinitamente duro, mas ao mesmo tempo, a coisa mais importante neste momento.
Manifestar a Deusa através do corpo, do sangue, do coração. Cicatrizar, através da sabedoria e amor, as dores e memórias antigas, e renascer com belas asas, voando longe do casulo onde se viveu por tanto tempo. Mas há tanto a aprender...
A cada nova tentativa, um passo dado, mas ainda falta um pouco de força – ou de sabedoria.
Novas cicatrizes, contempladas com um quê de tristeza, demoradamente, acompanham o pensamento de que “acreditava ser desta vez que eu poderia voar...”
Uma irmã mais sábia me canta uma canção de consolo: “A dor é uma ilusão que alimenta a falta de segurança da alma. Não existe o duro chão, ou cortes no seu belo corpo de luz. Este é o espelho que “o que já não é” reflete. Ilusão.
Eu quero muito levantar. Mais que tudo. Mas não consegui ainda.
A cada dia eu percebo mais que estou pronta, que curei minhas feridas, que abri minhas verdades, que recebi ajuda e amor. A cada dia eu acredito mais que posso levantar.
Eu sei que quando isso acontecer, tudo o que ficará será passado, e nada mais levarei comigo. Serei apenas eu mesma, sem mais nada externo a me confundir as verdades.
Mas ainda não pude.

Eu fiquei olhando o céu, a janela, o sol brilhando, me convidando a sair. Eu sonhei com o que faria se levantasse. Eu sorri sozinha.
Aconcheguei meu corpo ao travesseiro, e senti uma mão leve e rósea acariciar meus cabelos, continuando a cantar “calma, você tem tempo...
E não fui. Fiquei. E ficando, tudo ficou como está.
E me arrastei por mais um dia inteiro, vivendo o passado que já não é.
Quem sabe amanhã...


Sobreviver...

Tem sido um período desafiador e intenso.
Tantas dores a libertar...
Peço ao Céu que transmita toda a energia que a família de Luz permite que eu focalize e sustente, a todas as minhas amadas irmãs que ainda procuram sua Paz interna.

Foco na cura do coração cansado que estressa o corpo, que faz doer a coluna, as pernas, a cabeça, a alma.
Foco na beleza da alma que é pura de Luz.
Porque o dom de criar um novo amanhã é apenas seu! De mais ninguém!
É no seu ventre que o rebento sagrado é gerado, iluminado com o sêmem do Masculino Verdadeiro, este que respeita e ama, sem machucar.
O mundo agora é o que você sente e vê, e não o que te vendem com lógicas que não fazem mais sentido algum.
Não deixe que te enganem.
Liberdade. Mesmo que muito cara.
Mesmo porque, cara demais, é a morte dos seus sonhos.
Sobreviver. Para poder, enfim, renascer.

Um grande beijo a todas as guerreiras da Luz (e aos cavaleiros que, corajosamente, se dispoem a amá-las).

2 comentários:

  1. Rê, por um instante me lembrei daquela linda roda de mulheres... lembra? É impressionante como os rostos vão mudando, mas alguns sempre estão lá... será que a roda ainda existe? Será que eu é que estou presa a ela, como se fosse esse chão duro que "já não é"? Espero também poder voar, com todas elas, e com todas as minhas "partes" que "realmente" são!!! Beijinhos. Milena

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  2. Rê, você é "irmã" da Milena, então é minha também. Não tenho palavras para expor o quanto este texto me emocionou. Parabéns! Namastê...

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