terça-feira, 20 de março de 2012

Agradecer


Equinócio de Outono.

O verão deste ano de 2012 foi extremamente forte. Foi uma missão de coragem (ou desespero) para cada coração que o atravessou, empenhado em transmutar suas últimas velhas idéias e abrir espaço para o novo que precisa (e vai) chegar. Mas transmutar, apesar de parecer bonito e libertador (e de fato, é!), também significa despedidas, dores, dúvidas e perda de rumo.
As constantes explosões solares que ocorrem sem trégua e bombardeiam o nosso planeta funcionam como um catalisador, um turbo para estas transmutações. No verão isso ficou intensificado ao extremo. Claro que é uma ajuda universal para os propósitos libertadores. Mas haja fôlego e lágrimas...
Neste verão, abri meu coração novamente para a tal transformação, aceitando a roda da vida. Como em tantos outros vários corações, corpos e espíritos, uma energia descomunal me bombardeou, sacudiu minha alma, e me tirou do prumo. Os corpos emocionais vibraram ao extremo e fomos acometidos por todos os tipos de turbulências. Tudo bem, era para isso mesmo. Sobrevivemos (?).
Antigamente eu me despedia tristemente do verão, tentando esticar cada segundo de sol e calor. Começava antecipadamente a sentir falta dos vestidos coloridos, dos finais de tarde quentes no parque. Sempre senti que que o fogo liberta, fortalece, aquece e ilumina. É uma força tremenda e muito boa de sentir e ela me fazia falta quando se ia. Para mim, amante do calor, o ano começava na Primavera, melhorava no verão, e depois... eu suportava até chegar a próxima Primavera. Até meu humor hibernava até ela chegar.
Aprendi com a sabedoria da vida, entretanto, a curtir o passo lento do inverno, introspectivo, acolhedor, misterioso e revelador. Ele nos leva a caverna do urso, ao nosso interior, nos faz meditar sobre nós mesmos e discutir nossas escolhas e consequencias. Aprendi a perceber e apreciar a Primavera com seus inícios, plantios e milhares de novas possibilidades e oportunidades, depois da meditação do inverno. O verão era apenas o pico, havia todo um caminho para chegar ao cume da montanha, e era igualmente belo e importante.
Mas o Outono... eu custei a pensar nele. Ele parecia uma introdução do Inverno. E só. Burrice minha. E quanta coisa deixei de aprender com esta burrice.
Já na escola aprendemos que Outono é a época dos frutos. Dos frutos! Como não via? É onde se colhe o que se escolheu plantar. É onde se pode ter certeza se o andar foi realmente na direção que se previa. É onde se pode observar as criações e amá-las, agradecê-las, antes de hibernar para pensar e planejar a próxima plantação.
Eu nunca olhava realmente para os meus frutos. Acho que nunca tinha tempo para comemorar minhas vitórias ou observar meus equívocos com amor e aceitação. Passava rápido por eles, sempre pensando como agiria da próxima vez, como criaria meu próximo ciclo.
Pois, bem. Novamente, Outono. Inicia-se a festa da colheita. É tempo de olhar ao redor e para dentro de nós, e aceitar o que criamos nestes últimos ciclos. É tempo de receber, aceitar e amar cada situação, pessoa, lugar, coisa ou idéia que se apresenta como nosso rebento, e agradecer.
Meu último aprendizado com os ciclos da vida foi o que o Outono representa agora para mim: a mais completa e verdadeira Gratidão. Gratidão por sermos quem somos, por nossas oportunidades, pelas situações que nos guiaram e que nos aceitaram como maestros da vida, por mais um ciclo. Gratidão pelo aprendizado em forma de sucesso e fracasso, simplesmente por existirem. Gratidão por todos que nos apoiaram e participaram da nossa estrada. Sem pensar ainda em arrumar, consertar, mudar. Apenas observar, receber, agradecer e amar. E comemorar.
A época da colheita sempre foi a mais comemorada nas civilizações antigas. Festas e festas, agradecendo a Mãe Terra, aos deuses, a cada um que participou da história.
Perdemos isso. Nós vemos os frutos chegando como se não fossem mais que nossa obrigação gerá-los, e que precisamos pensar logo nos próximos senão vamos ficar na falta algum dia. Triste ilusão. Atentado puro ao poder de Prosperidade da Mãe.
E isso é sabedoria para o tempo todo, e não uma vez ao ano. No ciclo da Natureza, cada parte do dia representa uma estação: o amanhecer, a Primavera, a tarde, o Verão, o anoitecer, o Outono e a noite, o Inverno. Podemos viver a energia de todas as fases da vida a cada dia, pois a sabedoria cabe em cada pedacinho dele.
Quem agradece à Mãe pelo alimento, pelo conforto, pelo amor, pela ajuda na criação, nunca ficará sem respaldo. Nunca verá escassez. E é isso que precisamos voltar a viver, não só no Outono, mas a cada dia, continuamente, sem nunca esquecer. Coisa para se lembrar no próximo pôr do sol.
Antes da noite chegar, simplesmente respire fundo, lembre do seu dia e sorria para o sol que descansa. Reserve um minuto para a gratidão. E volte ao mundo louco, repleto de bênçãos da Mãe.
Neste ano de 2012, eu simplesmente exalto o bendito Outono que chega!
Que se faça a festa da natureza!
Que traga os frutos, que traga tranquilidade, paciência e harmonia às mentes e aos corações exaltados do verão, para que possam apreciá-los, um a um, e de preferência, em ótimas companhias...