segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Renascer

Uma história

De repente, tudo parecia não fazer mais sentido. Eu olhava em volta, via os antigos costumes, os mesmos nomes, e não entendia porque não me sentia da mesma forma de sempre.






Era meu aniversário, e senti vontade de ficar longe de tudo, e perto do mar.
Na viagem, entre as brumas que tomavam conta de mim e as reais, que subiam das matas e represas e dificultavam a visão dos motoristas, eu sentia um imenso vazio.
Segui, então, em silêncio, como em uma grande prece.


Ver o mar sempre me preenche. Não senti desta vez, porém, a nostalgia de anos atrás onde eu queria adentrar nas ondas e nadar, nadar sem parar, e fingir que ali ainda era o meu lugar. Nem a euforia que sentia quando invocava a Grande Presença masculina dos Oceanos e recebia sua bênção e proteção paterna que tanto sentia falta.
Eu apenas o respirei.

Eu levei o mar para dentro de mim, assim, inteiro, com sua vida e seus mistérios, e percebi que estava tudo bem. Eu estava curada da nossa separação.
Fixei minha visão no horizonte, onde ele toca o céu, onde dois complementares se abraçam, e respirei meu Silêncio Sagrado.
Não havia mais as pessoas, as vozes, os movimentos. Apenas um mágico momento vazio.
Mergulhei finalmente, em um ponto etéreo do mar.

Muito longe dali, um ponto no Pacifico, onde o fundo do mar se levanta e forma uma cordilheira submersa.
Era muito iluminado e a areia incrivelmente branca. Eu estava acompanhada de um velho amigo espiritual que parecia tão interessado quanto eu naquela missão.
Eu procurava. Por algumas vezes, vi de relance alguns outros focos de luz procurando algo também, mas não me ative neles. Eu procurava o “meu” algo.
Junto a algumas pedras, pude avistar um pequeno baú e fiquei totalmente atraída por ele. Apesar de sentir que estava abandonado há milênios, estava limpo e resplandecente, como se fosse totalmente novo. Era de um dourado pálido, como todas as cores ali. Não vibravam intensas como no interior da Terra, ou sob a luz do Sol. No fundo da mar, no campo sutil, as cores são pálidas e frescas, mas não menos belas.
Quando peguei o baú nas mãos, logo pensei que precisaria de uma chave para abri-lo. E foi imediata a minha lembrança da chave dourava que via há mais de uma década em minhas viagens espirituais xamânicas de auto-conhecimento. A chave dourada, com três pétalas esculpidas, que liguei à Chama Trina e depois, à Flor-de-Lis.
Mas não havia fechadura no baú. Ele não estava trancado. Era apenas abri-lo.
Dentro dele, uma bela pérola do tamanho da palma da minha mão, brilhava. Seu tom azul-muito-claro-pálido me tocou e comecei a chorar. Aquilo era o meu tesouro.
“Muitos guardaram tesouros para o momento que viria. Colocaram neles seus mais doces sonhos, seus momentos felizes, mas principalmente, seus dons que precisaram guardar.
Sofreram, buscaram, se perderam, lamentaram. Mas hoje o planeta oferece novamente suporte para que os sonhos sejam revelados e alimentados.”
Eu senti um amor enorme pela pérola azulada. Com ela, surgiam lembranças, imagens, e esperança. Senti meu coração bater forte e meu peito inchar de energia. Nele, sim, existia uma fechadura.
Lembrei de uma visão que tive, onde uma mulher triste com seu coração acorrentado, tinha a chave (a mesma chave de sempre) nas mãos, mas não o abria. Ela parecia se proteger de algo, de alguma dor.



Agora estava eu com meu coração vibrando uma fechadura, segurando a coisa mais linda do mundo nas minhas mãos.
Fiz o que acreditei ser o mais verdadeiro. Invoquei minha chave dourada, e logo que a tive nas mãos, com ela abri meu coração. Um vento gelado saiu dele, revelando um vazio silencioso. Coloquei a pérola então no vazio que se abriu, e a mágica aconteceu.
Vários raios de luz saíram do meu peito e eu senti uma alegria sem igual. O mar tinha voltado a morar dentro de mim.

Percebi que não significava exatamente o mar, mas tudo que foi vivido e sonhado e depois enterrado nas profundezas dele, junto com o saudoso continente lemuriano.

Havia, nesta mágica, explicações para muitas questões, habilidades perdidas, verdades esquecidas. Eu parecia entender o mundo, e a mim mesma, em um só momento.
Mas foi breve. Logo voltei à praia um suspiro enorme surgiu dentro de mim e sorri.
Meu amigo invisível ao meu lado entrou na minha aura e juntos, vibramos um belo sol de amanhecer, envolvendo todos ao redor.
Ele me disse que, através da história, muitos de nós buscamos nossos tesouros perdidos.

As histórias de piratas devem ser para a memória lemuriana, como as histórias medievais são para o Santo Graal. Tudo faz sentido depois de revelado.


As belas brumas invadiram o céu, de repente, escondendo o brilho do sol.

Algo ainda deve ser revelado, as névoas dizem isso.

Talvez fosse hora de voltar. Tudo tem sua hora. É apenas uma questão de tempo e de fé.

Brumas

Algo está acontecendo. Ainda estou me sentindo estranha, distante e silenciosa, apesar de em paz.


O mundo todo me parece cercado por uma incrível camada de energia nebulosa – não pude evitar de lembrar das belas brumas de Avalon, antes da despedida de todas as magias, e recolhimento das belas histórias de honra e respeito ao Sagrado Feminino.
Acredito que a natureza sempre se encarrega de gerar nuvens – materiais ou etéreas – para nos preparar antes das grandes transformações. É como cada dia que nasce na serra, aqui onde moro: muita neblina, visão limitada para frente, facilitando o foco para dentro, antes de, finalmente, o sol aparecer, e nos dar mais uma oportunidade de escolhas e vida. É o momento da alma, do silêncio, da meditação da natureza. É naturalmente especial e mágico, se pudermos parar e transferir a energia para dentro de nós. Aí está o segredo de um dia bem vivido.
Nesta manhã especial – hoje é dia das bruxas, ou melhor, do Feminino Oculto –, voltando para mim mesma, meu chakra da coroa se abriu involuntariamente, me conectando com tudo e todos, em níveis altos e diversos. E eu senti algo diferente.
De repente, uma certeza enorme me cercou, dizendo que nada mais será como antes. Eu simplesmente suspirei e disse ao meu marido: “Tudo vai mudar”. Eu não apenas entendi, mas senti do fundo da minha alma, que vai mudar.
Sinto o mundo diferente. Além de tudo que sabemos – relevo, geografia, economia, política, religião, poder, valores –, as relações humanas parecem diferentes. Pessoas tendo ligações por similaridade de energia, de meta, de forma de pensamento e atitudes; valorizando mais seu tempo na Terra, percebendo que é pura besteira gastá-lo com convenções e pensando nas expectativas dos outros em relação a ela. E sendo mais livres e produtivas.
A energia nova que cerca o planeta tem uma capacidade especial de libertar e transmutar o que não é utilizado – assim como o Feng Shui nos manda fazer com peças de roupas não usadas, gastando energia e espaço no nosso armário – focando para isso, a mais pura energia Violeta.
Os sentimentos, valores, costumes, verdades que apenas fazem parte da nossa vida porque não os questionamos, ou porque queremos ser aceitos e amados pelos outros, estão se despedindo e todos sentem disso.



Sinto de repente que todos já decidiram o que querem e como querem viver suas vidas. Alguns se agarraram a conceitos passados, procurando segurança e força, outros se aventuraram nas brumas. E lá estão, a espera de um novo amanhecer, depois delas.
E eu estou entre elas, com meu belo e renovado coração. Estou dentro destas belas e esvoaçantes energias difusas, e não consigo viver mais que um dia após o outro, e os planos tem sido impossíveis de serem traçados.

A inconstância na energia é sentida o tempo todo, e eu, como ser do Raio Azul da certeza e determinação, vivo um desafio enorme a cada dia. Certeza? Só na minha fé em mim mesma, na minha essência e na minha vontade de ser divina e plena, em total equilíbrio no Todo. Só. É a única coisa que me parece real.
Mesmo assim, me sinto feliz, porque muitas partes minhas finalmente acordaram, depois de séculos de espera, e hoje respiram vida novamente. Como muitas mulheres e homens, resgatei valores antigos como o poder sagrado da maternidade, a magia da complementação pelo ato do amor, a divindade do prazer e da alegria, minha própria divindade e meu direito de escolha e atitude, entre muitas outras verdades que nos foram arrancadas pela cultura paternalista e pela negação do Feminino. Eu resgatei todos os valores que havia guardado no passado, na antiga Lemúria, e agora - como um milagre! - pulsam novamente no meu coração
(e qual não foi a minha surpresa quando, editando este post, eu me deparo com esta imagem, sem que eu procure, apenas me dando a certeza de que não estou só).


Lógico que alguma dor ainda acontece nos processos de renascimento pessoal, afinal, foram milênios de equívocos. Mas eu respeito a dor.
Livre das velhas idéias e valores que enalteciam o sofrimento e o sacrifício, mas como uma amante do outro lado que tudo tem, eu respeito a vivência da dor, como a bela complementação da vivência do amor na nossa dimensão.
Não me entenda mal, eu não sou masoquista. Mas tudo o que vivemos nos torna quem somos, sem exceção. Nesta escalada da dualidade, a dor - como energia masculina - trouxe foco, fé pessoal, nos fez transpassar limites antiquados, abriu novas janelas na alma por onde os segredos puderam sair, e transformou o ser. Ela tem sua função e valor.

O prazer, por sua vez totalmente feminino, liberta os segredos, dispersa e compartilha a energia, foca o outro, conserva as conquistas.

Juntos, formam o puro amor de doação e criatividade que agora procuramos ser capazes de sentir. Mas para gerar esta união, dor e prazer formaram o casamento perfeito na escalada da evolução. A natureza é sempre sábia.

As dimensões continuam se aproximando, se misturando, mas sinto mais facilidade em entrar e estabilizar o tipo de energia escolhido por cada um.


Os índigos adultos estão se encaminhando para seus postos de trabalho e transformação, gerando revoluções, quedas de poder, elucidação de sistemas corruptos e de abusos de uso do planeta. Tudo muito rápido e forte, como boa energia índigo que é...

Assim, como um deles, começo a ter certeza de que meu posto é aqui, escrevendo minhas sensações e visões das camadas que nos envolvem. Talvez apenas sentindo o que acontece, e repartindo com quem quiser e se interessar. Ou ajudando de forma mais efetiva, na transformação de alguém.

A entrada do meu novo ciclo me trouxe esta certeza. Pelo menos esta.

Lá fora, o céu continua cinza e misterioso. Dentro de mim, porém, alguns raios de amanhecer podem ser sentidos. É a magia do renascimento, o portal do aniversário, a Nova Energia, ou apenas o puro Amor pela vida humana e por este planeta que a acolhe. Ou tudo junto. Não importa.


Amanhã, acredito, estaremos todos vivendo novos relacionamentos, mais leves que a maioria dos atuais, tão baseados na antiga forma cármica de viver.

E que para todos, exista, como sempre, um belo resgate a ser feito, e uma bela paisagem a ser degustada e apreciada, depois das brumas atravessadas com coragem, fé e amor.

O que existirá depois das minhas belas nuvens mágicas?